26 de dezembro de 2012

Personagens inesquecíveis



Acho que a provocação é de 2010...

Mas recém topei com ela e resolvi brincar...

É o seguinte: no site da Biblioteca de São Paulo, há o  desafio:
(…) não deixe de nos dizer quais os personagens da literatura que moram na sua memória afetiva.
Assim, rapidamente, me lembrei de...
Ana sentia-se animada, com vontade de viver. Sabia que por piores que fossem as coisas que estavam por vir, não podiam ser tão horríveis como as que já tinha sofrido. Esse pensamento dava-lhe uma grande coragem. Ali deitada no chão a olhar para as estrelas, ela se sentia agora tomada por uma resignação que chegava quase a ser indiferença. Tinha dentro de si uma espécie de vazio: sabia que nunca mais teria vontade de rir nem de chorar. Queria viver, isso queria, e em grande parte por causa de Pedrinho, que afinal de contas não tinha pedido a ninguém para vir ao mundo. Mas queria viver também de raiva, de birra. A sorte andava sempre virada contra ela. Pois Ana estava agora decidida a contrariar o destino.
- Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de
animais alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra. Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a, murmurando: - Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.
 – Deve cada um seguir cegamente o caminho em que se acha, sem considerar seus dotes pessoais, ou deve, pelo contrário, pesar as aptidões, as preferências que possa ter, e mudar a direção de sua vida? Foi o que tentei fazer e fracassei. Mas não admito que o meu fracasso valha como prova de que estava errado, do mesmo modo como não admitiria que o sucesso justificasse o bem-fundado do meu ponto de vista. E é assim, entretanto, que, muitas vezes, julgamos os esforços, não pelo seu valor essencial, mas pelo seu resultado acidental. Se me tivesse tornado um desses doutores vestidos de vermelho e preto que estamos vendo descer, ali, todos diriam: “Vejam como este homem agiu sabiamente, seguindo o pendor de sua natureza!” Mas, não tendo acabado melhor do que comecei, dizem: “Vejam como este homem agiu estupidamente, seguindo um capricho de sua imaginação!” No entanto, foi minha pobreza e não minha vontade quem determinou a minha derrota.
Eu olho pra Janéti, que me sorri (...) um sorriso de quem coloca a alma no rosto, nada a esconder, toda a intensidade viva nas linhas da cara (...). Ela me contou orgulhosa que hoje em dia é ela que sustenta o pai e a mãe (...).
(...) Lutamos dez anos pra que, Sargento? Pra tornar a ser escravos? (...) Lutamos porque nos prometeram a liberdade. E agora querem nos mandar pra Corte. (...) Sargento, entramos nesta guerra porque seríamos livres quando ela terminasse. (...) Todos mentiram. Os republicanos mentiram. Enquanto precisavam da gente pra guerra falavam em liberdade, igualdade, fraternidade. Quando a guerra terminou nos entregaram para os imperiais.  (...) Sargento, quem foi que um dia me disse: Milonga, vosmecê não vai ser mais um negro ignorante que nem eu, que só sabe matar pra se sentir livre. Quando a guerra acabar vosmecê vai estudar, vai aprender a pensar, vai entrar na política, vai ser advogado. Isto (ergue o que resta do braço direito decepado) foi tudo que eu ganhei, Sargento.
Capitu era Capitu, isto é, uma criatura mui particular, mais mulher do que eu era homem. (...) Era também mais curiosa. As curiosidades de Capitu dão para um capítulo. Eram de vária espécie, explicáveis e inexplicáveis, assim úteis como inúteis, umas graves, outras frívolas; gostava de saber tudo. No colégio, onde, desde os sete anos, aprendera a ler, escrever e contar, francês, doutrina e obras de agulha, não aprendeu, por exemplo, a fazer renda; por isso mesmo, quis que prima Justina lho ensinasse. Se não estudou latim com o Padre Cabral foi porque o padre, depois de lho propor gracejando, acabou dizendo que latim não era língua de meninas. Capitu confessou-me um dia que esta razão acendeu nela o desejo de o saber. (...)
Tudo era matéria às curiosidades de Capitu.
Durante seis meses, quando tinha quinze anos, Emma enxovalhou as mãos na sebenta poeira dos velhos gabinetes de leitura. Com Walter Scott, mais tarde, apaixonou-se por coisas históricas, sonhou com baús, salas de guardas e menestréis. Teria preferido viver nalgum velho solar, como aquelas castelãs de longos corpetes que, sob o trifólio das ogivas, passavam os dias com o cotovelo sobre a pedra e o queixo apoiado na mão, vendo aproximar-se, do fundo do campo, um cavaleiro com uma pluma branca a galope sobre um cavalo preto. Teve nesse tempo o culto de Maria Stuart e sentiu entusiástica veneração pelas mulheres ilustres ou desventuradas. Joana d'Arc, Heloísa, Inês Sorel, a bela Ferronnière e Clemência Isaura, para ela, destacavam-se como cometas sobre a tenebrosa imensidão da história, onde ainda sobressaíam, aqui e além, mas mais perdidos na sombra e sem qualquer relação entre si, São Luís com o seu carvalho, Bayard moribundo, algumas ferocidades de Luís XI, um pouco da matança de São Bartolomeu, o penacho do Bearnês e ainda a recordação dos pratos pintados onde Luís XIV era lisonjeado.
Bueno,  outro dia, continuo... conheci muitos personagens em obras de literatura infantil (esse adjetivo dá o que falar, né?!) que me encantaram...


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@Atualização@

Como tinha prometido, retomei essa ideia, desta vez, no Ufa! - drops

E estou ampliando a lista! ;-) 

É só seguir aqui!


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