23 de outubro de 2012

De ferramentas e interfaces

    
  
No início do Curso de Especialização Tecnologias na Educação (PUC-Rio/MEC), em 2009, na disciplina Mídias na Educação, lemos Internet na escola e inclusão, de Marco Silva.

Lembrei desse texto,  quando pensava sobre as palavras que escolhemos para expressar nossas  ideias...

Nele, o autor fala sobre a necessidade urgente da escola trazer a Internet para a sala de aula sob pena de ficar (de novo?!)
na contramão da história, alheia ao espírito do tempo e, criminosamente, produzindo exclusão social ou exclusão da cibercultura. Quando o professor convida o aprendiz a um site, ele não apenas lança mão da nova mídia para potencializar a aprendizagem de um conteúdo curricular, mas contribui pedagogicamente para a inclusão desse aprendiz na cibercultura.
Para essa inclusão, o professor deverá “se dar conta de pelo mesmo quatro exigências da cibercultura oportunamente favoráveis à educação cidadã”:

  • O professor precisará se dar conta de que transitamos da mídia clássica para a mídia online;
  • O professor precisará se dar conta do hipertexto próprio da tecnologia digital;
  • O professor precisará se dar conta da interatividade enquanto mudança fundamental do esquema clássico da comunicação;
  • O professor precisará se dar conta de que pode potencializar a comunicação e a aprendizagem utilizando interfaces da Internet.
Na última exigência mencionada, Silva usa o termo interface, trazido de Steven Johnson, no livro A cultura da interface: como o computador transforma nossa maneira de criar e de comunicar, distinguindo-o de ferramenta.
Ferramenta é o utensílio do trabalhador e do artista empregado nas artes e ofícios. A ferramenta realiza a extensão do músculo e da habilidade humanos na fabricação, na arte. Interface é um termo que na informática e na cibercultura ganha o sentido de dispositivo para encontro de duas ou mais faces em atitude comunicacional, dialógica ou polifônica. A ferramenta opera com o objeto material e a interface é um objeto virtual. A ferramenta está para a sociedade industrial como instrumento de fabricação, de manufatura. A interface está para a cibercultura como espaço online de encontro e de comunicação entre duas ou mais faces. É mais do que um mediador de interação ou tradutor de sensibilidades entre as faces. Isso sim seria "ferramenta", termo inadequado para exprimir o sentido de "ambiente", de "espaço" no ciberespaço ou "universo paralelo de zeros e uns" (Johnson, 2001, p. 19).
Quando li pela primeira vez essa comparação, achei interessante, em especial, porque, segundo o autor, o professor

pode lançar mão destas interfaces para a co-criação da comunicação e da aprendizagem em sua sala de aula presencial e online. Elas favorecem integração, sentimento de pertença, trocas, crítica e autocrítica, discussões temáticas, elaboração, colaboração, exploração, experimentação, simulação e descoberta.
Sim, as palavras que usamos para nomear revelam as relações que estabelecemos com o que nomeamos!


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