7 de outubro de 2012

Aula da professora Maria Helena


Participei do VII SENALE, na UCPEL.

Três dias de muitos encontros -  ideias, pessoas, obras instigantes!

Nunca imaginei  assistir aula da professora Maria Helena de Moura Neves.

Éramos uns cinquenta alunos, em estado de encantamento, saboreando cada palavra. O assunto? Gramática, é claro! Ou melhor, o estudo da língua na vivência da linguagem.

Alguns apontamentos:

- Na escola, nos provoca a professora Maria Helena, as aulas se sucedem: matemática, química, física... os alunos trabalhando para resolver  questões. Então, vem a aula de português: "Oba! Agora vou poder descansar" - diz um deles -"pois, agora,  não preciso refletir, pensar, é só sublinhar, classificar..."

   Nós rimos da situação, meio envergonhados,  nos reconhecendo...

- Gramática é um software que nos permite construir significados.

- Os exercícios de substituição deveriam ser proibidos por lei, pois violentam a linguagem. Alguém substitui o que o outro falou?

  Temos que propor construção - é o que fazemos: escolhemos isto ou aquilo que vamos usar para nos comunicar.

- É preciso cuidado; entrar com muitas certezas, a partir de rótulos e de definições, não dá certo; há que considerar a capacidade da linguagem dizer tudo, de escorrer pelas beiras.

- Exemplos em que a gramática escorre pelas beiras:
  • Se perguntarmos a classe gramatical da palavra "fantasma", teremos como resposta:  substantivo. E em "navio fantasma"? "Fantasma" é um adjetivo. Os adjetivos, em geral, vêm à direita dos substantivos. Quando há dois substantivos juntos, o que está à direita fica parecido com adjetivo. Por que somos capazes de dizer "navio fantasma" e não "fantasma navio"?
  • Uma cena que se repete muito: a professora escreve a pergunta: Quem descobriu o Brasil? O aluno responde: Pedro Álvares Cabral. A professora considera a resposta  errada, pois deveria aparecer a frase completa: Quem descobriu o Brasil foi Pedro Álvares Cabral. Como se não existisse    (elemento vazio) na língua.
  • Os professores de língua portuguesa mandam classificar o sujeito oculto, mas não mandam  classificar o objeto direto oculto, por exemplo: A menina entregou o livro para a tia e a mãe pergunta: - Tu entregaste? (objeto direto = ∅)
  • Quais são os termos essenciais da oração? Sujeito e predicado. Se são essenciais, como explicamos os casos das orações sem sujeito?
- Na cabeça de muita gente,   gramática não tem nada a ver com linguagem, só que há muitos exemplos -  como os mencionados anteriormente - que põem por terra as definições. 

- Então, podemos dizer que a gramática faz a linguagem.  A gramática cria a linguagem.

- Quando entramos na escola, entramos com linguagem, continuamos a usar a linguagem e começamos a falar sobre a linguagem. A aula de português deve ser uma aula que fala de linguagem, considerando sua heterogeneidade.

- A metalinguagem tem que aparecer nas aulas, sim, mas não como rótulo.

- A escola deve trabalhar o que é bem valorizado: esse ou aquele uso não é bom, mas não é um erro.

- A escola é um espaço privilegiado da palavra escrita; o que não minimiza o valor da linguagem oral.

A  professora Maria Helena nos mostrou como fazer uma aula da língua em funcionamento, partindo do texto como unidade de análise.

Nosso papel como professores? Refletir junto com os alunos, levá-los a penetrar nos textos, analisar a linguagem e seus efeitos.

Esses apontamentos, assim, fora do contexto, sem a voz da professora Maria Helena, talvez, signifiquem pouco, mas, quem sabe, nos ajudem a (re) pensar, com urgência as nossas práticas.

Ah, estão anotadas aqui ideias que já ouvimos/lemos em outros lugares... Tudo bem! Então, por que continuamos trabalhando a língua portuguesa como uma língua morta? 

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Algumas obras da professora Maria Helena que encontrei na web:
Gramática, Uso e Norma: a Contribuição de Maria Helena de Moura Neves ao Ensino:  artigo em que Marli Quadros Leite ressalta a importância  das pesquisas da professora Maria Helena
especialmente no que diz respeito aos conceitos de uso, norma e gramática. Mostrar como a autora deixa claro que a exata compreensão desses conceitos, por parte dos professores, é de fundamental relevância para uma prática de ensino eficaz da língua materna. Além disso, enfatiza como Maria Helena interpreta, avalia e critica o trabalho escolar com “a gramática”, sem nunca, todavia, deixar de assumir postura construtiva diante dessa questão.

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